Professora de língua portuguesa, formada em Letras pela Universidade de Sorocaba (Uniso) em 2003, Fernanda Garcia iniciou sua participação política no movimento estudantil, lutando por passe livre no transporte público municipal. Em 2014, foi eleita conselheira no Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), subsede Sorocaba.
Foi eleita vereadora em 2016, com 3.882 votos, e reeleita em 2020, com 4.795 votos. Em 2024, conquistou seu terceiro mandato consecutivo, obtendo 6.860 votos e tornando-se a mulher mais votada na história da Câmara Municipal de Sorocaba. Seu mandato defende o fortalecimento dos serviços públicos, como a saúde e a educação, os direitos dos trabalhadores e das mulheres e os direitos humanos.
Fernanda Schlic Garcia nasceu em Sorocaba em 10 de novembro de 1977. Filha de um pedreiro e de uma trabalhadora do lar, é a primeira filha entre os quatro irmãos. Como boa parte das famílias de trabalhadores no Brasil, mudou constantemente de casa, até que a família conseguiu se estabelecer em moradia própria. Fernanda, os pais e os irmãos passaram então a morar no bairro São Conrado, onde a vereadora reside até hoje.
Vivenciou na pele os problemas da periferia de Sorocaba, pois o São Conrado, como quase todos os bairros da Zona Norte, tinha muitas ruas de terra, sem tratamento de esgoto, pouca iluminação, abastecimento precário e falta de atendimento médico. Foi assim que Fernanda teve seu primeiro contato com a luta política por condições dignas de moradia e serviços públicos e com a luta social através do movimento estudantil.
Enquanto estudava na Escola Estadual Antônio Padilha, participou da construção do Movimento Olho Vivo, em conjunto com centenas de estudantes sorocabanos. Entre 1997 e 2004, o Olho Vivo foi um dos principais movimentos sociais de Sorocaba e região, num período em que a cidade viveu grandes manifestações em defesa do passe livre estudantil, com dezenas de grandes marchas de jovens, debates e manifestações organizadas pelo movimento.
De forma muito ativa, como estudante do Ensino Médio e, depois, do curso de Letras da Uniso, Fernanda Garcia acompanhou de perto o movimento. Raul Marcelo, um de seus líderes, foi eleito o vereador mais jovem de Sorocaba nas eleições de 2000 e convidou Fernanda Garcia para atuar em seu mandato, com o qual ela pôde contribuir na elaboração de projetos e discussão dos problemas da cidade.
Sendo parte fundamental na legislatura, Fernanda Garcia acompanhou Raul Marcelo em seus dois mandatos de vereador na Câmara de Sorocaba e também como deputado estadual na Assembleia Legislativa. Nessa época, além de acompanhar de perto as demandas da população, Fernanda adquiriu experiência legislativa, contribuindo para a formulação de importantes projetos de lei que vigoram na cidade de Sorocaba e no Estado de São Paulo.
Mas sua luta não se limitou ao parlamento e aos movimentos sociais. Entendendo que a transformação do país passa pela transformação do sistema educacional, ela fez de sua profissão de educadora um instrumento contra as injustiças, lecionando nas escolas públicas da periferia de Sorocaba, atuando na luta sindical e participando da fundação do cursinho popular “Liberte-se”, que, desde 2015, tem contribuído para que jovens de escolas públicas consigam ingressar na universidade.
Como sindicalista, também ajudou a organizar debates, seminários e manifestações por aumento salarial aos docentes, melhores condições de trabalho e por mais investimentos na educação, tendo colaborado na histórica greve dos 100 dias, que aconteceu em 2015, apoiando também o movimento dos estudantes secundaristas que organizaram ocupações escolares contra o fechamento de escolas.
Por entender que, apesar de todas as conquistas da luta feminista, ainda existe um abismo que coloca as mulheres em condições subalternas, Fernanda Garcia considera que a mulher precisa continuar lutando por igualdade salarial, espaços de poder e pelo direito sobre o seu corpo, mediante sua integridade física, moral e psicológica.
Nesse sentido, foi uma das fundadoras do Coletivo Feminista Rosa Lilás, que atua em diversas cidades do Estado de São Paulo, organizando e conscientizando mulheres a reivindicarem seus direitos. Para Fernanda Garcia, num tempo em que as conquistas das mulheres voltam a ser questionadas, é essencial que se afirme em todos os espaços que “o feminismo é a ideia radical de que mulheres também são gente”.
Ciente de que as unidades de saúde recebem todos os problemas não resolvidos na sociedade, desde a educação e moradia precárias até os feridos pela violência urbana, passional ou cometida pelo próprio Estado, Fernanda Garcia fez da saúde pública uma de suas principais bandeiras, atuando no Fórum Popular de Saúde, movimento que, entre outras ações, combate as violações dos direitos humanos no âmbito da saúde mental e a terceirização da saúde, denunciando a transferência de recursos do Estado para grupos econômicos.
Como vereadora, em seu primeiro mandato, Fernanda Garcia atuou, como presidente e relatora, nas duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) que resultaram na cassação do então prefeito José Crespo. Também se destacou em outras Comissões Parlamentares de Inquérito, que investigaram irregularidades em terceirizações da saúde, na merenda escolar e no transporte público, além de ter sido relatora da CPI sobre o acolhimento dos jovens em situação de vulnerabilidade.
Como vereadora, Fernanda Garcia e seu partido, o PSOL, se mantiveram independentes, recusando acordos com o Executivo mediante ocupação de cargos na administração por meio de indicações políticas. Isso lhe garantiu a autonomia para denunciar a tentativa de aumentar o IPTU em Sorocaba, com o reajuste da planta genérica de valores – medida que, segundo ela, se fosse instituída, elevaria o valor do IPTU para até 300% em alguns bairros da periferia de Sorocaba.
Caracterizando-se pelo posicionamento firme, Fernanda Garcia se pauta pela defesa da saúde, da educação e dos servidores públicos e por políticas públicas para crianças, mulheres, comunidade negra, LGBTs e pessoas com deficiência. Também luta por mais serviços públicos de qualidade nas periferias de Sorocaba e está sempre envolvida nas lutas das mulheres, dos trabalhadores e de todas as causas justas, consciente de que as injustiças do passado e do presente precisam ser reconhecidas, discutidas e superadas.
Fernanda Garcia é autora de várias leis sobre os seguintes temas: direito de brincar; aleitamento materno; saúde mental materna; cardiopatia congênita; agroecologia e produção orgânica; meio ambiente; pessoa com deficiência intelectual e múltipla; Programa Maria da Penha; perda gestacional, neonatal e infantil; Transtornos do Espectro Autista; Dia da Mulher Negra; combate ao trabalho infantil; presença de “doulas” durante parto; violência contra a mulher; e luta contra a lesbofobia, homofobia, bifobia e a transfobia.